Amamos tal como fomos amados
Já ouviu falar em vinculação?
Este é um conceito que pode ser ou não nosso conhecido, mas a verdade é que está directamente relacionado com a forma como estabelecemos relações amorosas.
Foi Jonh Bowlby e Mary Ainsworth, entre outros, que se dedicaram ao estudo da vinculação. Quando falamos em vinculação, falamos do vínculo (laço) afectivo que se estabelece entre a criança e o(s) seu(s) pais e/ou cuidadore(s) durante a primeira infância e que condiciona o seu desenvolvimento emocional. Ainsworth através das suas investigações percebeu que existem diferenças individuais na organização da relação de vinculação, isto é, nem todos temos o mesmo tipo de vinculação. Foram identificados três tipos e mais tarde um quarto. Mas afinal o que tem isto a ver com as nossas relações amorosas? Tudo ou quase tudo… Foi o que os psicólogos Hazan e Shaver perceberam através dos seus estudos. Ora então vejamos:
- Vinculação Segura: Este é o tipo de vinculação mais comum. A figura cuidadora preocupa-se com o bebé de forma adequada, não sendo invasiva nem negligente. A criança sente-se amada e ganha progressivamente autonomia para explorar o mundo. Quando a figura cuidadora se ausenta, a criança chora, mas consegue acalmar-se. Quando esta regressa alegra-se com o seu regresso. Em adultos nas relações amorosas tendem a sentirem-se seguros e têm prazer em partilhar intimidade. Conseguem identificar mais facilidade as suas emoções e partilhá-las, constroem mais facilmente relações duradouras e desidealizadas.
- Vinculação Ansiosa/Ambivalente: A figura cuidadora tem um comportamento imprevisível com o bebé, oscilando entre a intrusão (a criança é o centro de tudo) e a negligência, ignorando as necessidades desta. Estas crianças têm dificuldade em explorar o mundo, pois estão sempre muito preocupadas e ansiosas com a figura cuidadora. Em adultos nas relações amorosas tendem a ser mais inseguros e por vezes muito ciumentos, as separações provocam uma enorme ansiedade. Pode existir uma grande dependência do outro, e por vezes podem fazer depender a sua felicidade, da atenção que recebem ou não do outro.
- Vinculação Ansiosa/Evitante: A figura cuidadora é fria e distante no contacto com a criança. Encara as necessidades desta como caprichos, e por isso repele de forma contínua os pedidos de conforto, em especial os de contacto físico. São crianças que não reagem à ausência da figura cuidadora e quando esta regressa continuam a brincar. Estas crianças aprendem a reprimir os seus afectos, para se protegerem e manterem o vínculo. Aprenderam em criança que expressar as suas emoções trazia-lhes consequências menos boas, por isso em adultos reprimem-nas, nas relações amorosas podem ter mais dificuldades em expressá-las, a intimidade pode torna-se difícil e dolorosa.
- Vinculação desorganizada: Este padrão foi associado à existência de doença psiquiátrica na figura cuidadora. Esta é imprescindível para a sobrevivência do bebé, mas ao mesmo tempo uma ameaça. Este paradoxo causa muito sofrimento, assim como uma desorganização mental. Em adultos as relações amorosas podem ser sentidas como ameaçadoras e por isso tendem a evitá-las. A instabilidade pode ser constante, assim como existir uma grande dificuldade em respeitar os limites do outro.
A vinculação pode determinar até certo ponto as nossas relações amorosas, mas claro que nestas coisas da psicologia 2+2 nem sempre é igual a 4. A boa notícia é que nos casos em que o passado deixou “marcas” e estas influenciam as nossas relações actuais, podemos repará-las através de um processo psicoterapêutico (psicoterapia). Desta forma seremos capazes de construir relações gratificantes e sentirmo-nos mais felizes e realizados.
Elisabete Miranda
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