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Somos seres individuais. Temos uma vivência que é só nossa e que nos torna “especialistas” em nós próprios. No entanto, e como parte da nossa condição humana, estamos intrinsecamente ligados ao que nos rodeia. Quem somos hoje está infimamente ligado à nossa cultura, ao nosso meio, aos diversos papéis que desempenhamos, aos que fazem parte da nossa vida. Este nosso caminho, de sorrisos e de lutas (muitas vezes um pouco dos dois), acontece devido a este nosso plano de fundo – as nossas circunstâncias. A nossa história está conectada por milhões de pontos aos outros, aos que fazem parte da nossa rede, e principalmente aos que nos são próximos. Somos o que vemos em nós, e somos como nos veem, nesta abrangente rede de conexões. Influenciamos e somos influenciados: existimos em relação com o outro e o outro existe em relação connosco. Esta influência surge no presente, no passado e com olhos postos no futuro. Devo o que sou hoje aquilo que vivi, e com quem o vivi. E posso construir-me no futuro também com base nestas relações. Construímo-nos diariamente influenciados pelas nossas circunstâncias, mas tal não significa que não possamos mudar. Sim, podemos mudar. Somos o que fizeram (e fazem) de nós, mas também somos o que escolhemos fazer com o que fizeram de nós. Posso incorporar as minhas circunstâncias na minha história, na minha narrativa, no que sou e em quem quero ser no futuro. Podemos ajudá-lo nesta co construção. Fale connosco, estamos aqui. Sara Madeira - Psicóloga Clínica Frase de José Ortega y Gasset

Hoje em dia parece que só não somos felizes se não quisermos! A felicidade, o sucesso no trabalho e na vida pessoal resumem-se a uma qualquer receita que é debitada por psicólogos (atenção que eu sou psicóloga!), coaches, influenceres, PTs ou quaisquer outros com acesso ao palco das redes sociais, canais de televisão, podcasts… Vivemos rodeados de posts nas redes sociais, ou de livros nas livrarias, que preenchem o pódio dos mais lidos, que nos dizem o que fazer para sermos felizes, para não sentirmos ansiedade, para não nos sentirmos deprimidos, para termos sucesso no trabalho, como ter uma relação perfeita, como sermos pais perfeitos, entre outros ideais que todos, ou quase todos almejamos. A grande questão é: já tentaram seguir os passos para serem felizes? E conseguiram? Pois acredito que não, ou pelo menos não deve ter sido sol de muita dura. E se for, será que é autêntico, verdadeiro? Somos um sistema altamente complexo, e a mudança é um processo lento que não acontece em dias, em meses e nem muitas vezes em anos. A forma simplista como estas “receitas” nos são apresentadas mostra que quem as idealiza sabe pouco sobre a mente humana. Todos podemos realizar pequenas mudanças no nosso dia-a-dia que nos ajudarão a melhorar o mesmo, mas a mudança psicológica requer o acompanhamento de um psicólogo/psicoterapeuta. Por vezes vezes seguir estas “receitas” pode ter consequências desastrosas. Se tiver dúvidas fale connosco, estaremos deste lado! Elisabete Miranda - Psicóloga Clínica

Já ouviu falar em vinculação? Este é um conceito que pode ser ou não nosso conhecido, mas a verdade é que está directamente relacionado com a forma como estabelecemos relações amorosas. Foi Jonh Bowlby e Mary Ainsworth, entre outros, que se dedicaram ao estudo da vinculação. Quando falamos em vinculação, falamos do vínculo (laço) afectivo que se estabelece entre a criança e o(s) seu(s) pais e/ou cuidadore(s) durante a primeira infância e que condiciona o seu desenvolvimento emocional. Ainsworth através das suas investigações percebeu que existem diferenças individuais na organização da relação de vinculação, isto é, nem todos temos o mesmo tipo de vinculação. Foram identificados três tipos e mais tarde um quarto. Mas afinal o que tem isto a ver com as nossas relações amorosas? Tudo ou quase tudo… Foi o que os psicólogos Hazan e Shaver perceberam através dos seus estudos. Ora então vejamos: Vinculação Segura: Este é o tipo de vinculação mais comum. A figura cuidadora preocupa-se com o bebé de forma adequada, não sendo invasiva nem negligente. A criança sente-se amada e ganha progressivamente autonomia para explorar o mundo. Quando a figura cuidadora se ausenta, a criança chora, mas consegue acalmar-se. Quando esta regressa alegra-se com o seu regresso. Em adultos nas relações amorosas tendem a sentirem-se seguros e têm prazer em partilhar intimidade. Conseguem identificar mais facilidade as suas emoções e partilhá-las, constroem mais facilmente relações duradouras e desidealizadas. Vinculação Ansiosa/Ambivalente: A figura cuidadora tem um comportamento imprevisível com o bebé, oscilando entre a intrusão (a criança é o centro de tudo) e a negligência, ignorando as necessidades desta. Estas crianças têm dificuldade em explorar o mundo, pois estão sempre muito preocupadas e ansiosas com a figura cuidadora. Em adultos nas relações amorosas tendem a ser mais inseguros e por vezes muito ciumentos, as separações provocam uma enorme ansiedade. Pode existir uma grande dependência do outro, e por vezes podem fazer depender a sua felicidade, da atenção que recebem ou não do outro. Vinculação Ansiosa/Evitante: A figura cuidadora é fria e distante no contacto com a criança. Encara as necessidades desta como caprichos, e por isso repele de forma contínua os pedidos de conforto, em especial os de contacto físico. São crianças que não reagem à ausência da figura cuidadora e quando esta regressa continuam a brincar. Estas crianças aprendem a reprimir os seus afectos, para se protegerem e manterem o vínculo. Aprenderam em criança que expressar as suas emoções trazia-lhes consequências menos boas, por isso em adultos reprimem-nas, nas relações amorosas podem ter mais dificuldades em expressá-las, a intimidade pode torna-se difícil e dolorosa. Vinculação desorganizada: Este padrão foi associado à existência de doença psiquiátrica na figura cuidadora. Esta é imprescindível para a sobrevivência do bebé, mas ao mesmo tempo uma ameaça. Este paradoxo causa muito sofrimento, assim como uma desorganização mental. Em adultos as relações amorosas podem ser sentidas como ameaçadoras e por isso tendem a evitá-las. A instabilidade pode ser constante, assim como existir uma grande dificuldade em respeitar os limites do outro. A vinculação pode determinar até certo ponto as nossas relações amorosas, mas claro que nestas coisas da psicologia 2+2 nem sempre é igual a 4. A boa notícia é que nos casos em que o passado deixou “marcas” e estas influenciam as nossas relações actuais, podemos repará-las através de um processo psicoterapêutico (psicoterapia). Desta forma seremos capazes de construir relações gratificantes e sentirmo-nos mais felizes e realizados. Elisabete Miranda People photo created by rawpixel.com - www.freepik.com

\Ao longo da nossa vida, deparamo-nos com diversas perdas significativas – e estas perdas privam-nos de algo que outrora possuímos. Ao falarmos em perdas, não precisamos de nos referir exclusivamente à morte – podemos falar de perdas materiais, perdas em relacionamentos, perdas físicas e psicológicas. A vivência e elaboração destas perdas ocorrem nas diversas fases do desenvolvimento humano, fazem parte do nosso quotidiano, e são vividas por cada indivíduo de uma forma única. O luto é uma reação natural e esperada quando ocorre o rompimento de um vínculo – este é uma consequência da experiência de perda. Segundo Elisabeth Kübler-Ross, existem 5 fases (ou estádios), pelas quais as pessoas em processo de luto passam. Estas são respostas à perda, pelas quais a maioria dos indivíduos passam, sendo que é importante referir que não existe uma resposta única ou padrão, porque cada indivíduo é único, e porque cada perda é também ela, única. Negação: Esta é uma resposta típica que surge como o primeiro mecanismo de defesa à perda – uma recusa ao confronto com a situação. A negação do ocorrido é uma forma de proteção relativamente ao sucedido. À medida que se avança neste processo, os sentimentos “negados” surgem à superfície. Raiva: É uma resposta necessária à perda, e um sentimento que a pessoa se deve permitir experienciar. É o estágio onde a revolta é externalizada. Existem várias emoções escondidas por baixo desta raiva (mas é simplesmente mais fácil lidar com a raiva – uma emoção tendencialmente mais fácil de lidar). Por baixo desta raiva existe dor – e é a raiva que permite ter estrutura para lidar com ela. Negociação: Surgem perguntas como “E se...?”, ou “Se tivesse sido desta forma...?”. A pessoa que está em luto sente que faria qualquer coisa para não sentir o que sente de momento. Nesta fase é comum que surjam também sentimentos de culpa. Depressão: A atenção dirige-se finalmente para o presente. É comum que surjam sentimentos de tristeza, ou simplesmente de “não se sinta nada”. Aqui, o termo “depressão” não surge associado a doença mental, mas sim como uma resposta esperada à perda. Para que surja a aceitação, esta é uma fase necessária. Aceitação: Este último estágio é muitas vezes confundido com “estar tudo bem” – mas aqui, podem ser experienciados dias “bons” e “maus”. Esta última fase resulta essencialmente da aceitação da perda, e da aceitação da nova realidade. O indivíduo começa novamente a investir em si, e nas suas relações pessoais significativas. Este processo é determinado de forma individual e subjetiva por quem o vivencia, e depende de vários fatores - cultura, sistemas onde a pessoa está inserida, características de personalidade, o tipo de perda e o próprio contexto onde a perda ocorre. É um processo dinâmico pelo qual o indivíduo que perdeu algo atravessa. Os estágios não são vivenciados pela mesma ordem por todas as pessoas – estes não podem ser encarados como um roteiro a ser seguido, e podem sofrer alterações de pessoa para pessoa. Sob a premissa que cada indivíduo é num ser único, e que cada luto é experienciado de forma diferente, o psicólogo pode ter um papel fundamental neste processo – potenciando a que o indivíduo passe pelas diferentes fases de uma forma mais estável e equilibrada, e promovendo a integração da perda na nova realidade. Lembre-se que estamos aqui, e que podemos ajudar. Sara Madeira Fontes: Kübler-Ross, E., & Kessler, D. (2009). The five stages of grief. In Library of Congress Catalogin in Publication Data (Ed.), On grief and grieving (pp. 7-30). Business photo created by pressfoto - www.freepik.com

O adoecer é sempre acompanhado de medo e ansiedade – e estes são potenciados quando o diagnóstico se trata de uma doença crónica. A OMS define as doenças crónicas como “Doenças que têm uma ou mais das seguintes características: são permanentes, produzem incapacidade/deficiências residuais, são causadas por alterações patológicas irreversíveis, exigem uma formação especial do doente para a reabilitação, ou podem exigir longos períodos de supervisão, observação ou cuidados.” Num estudo efetuado em 2015, pelo INSA, verificou-se que mais de metade dos portugueses com idades compreendidas entre os 25 e 75 anos de idade (57,8%) referiram ter, pelo menos, uma doença crónica (ocorrência de uma ou mais doenças crónicas auto reportadas, de uma lista de vinte patologias: hipertensão arterial; enfarte agudo do miocárdio; acidente vascular cerebral; disritmia cardíaca; diabetes; insuficiência renal crónica; cirrose; hepatite crónica; asma; doença pulmonar obstrutiva crónica; dor crónica; osteoporose; artrite reumatoide; artrose; cancro; depressão; ansiedade crónica; úlcera gástrica ou duodenal; colesterol elevado e alergia). A doença crónica acarreta uma necessidade de adaptação psicológica significativa – tanto para o indivíduo que a possui, como para as pessoas que lhe são próximas. Não é apenas a pessoa com doença crónica que sofre com a adaptação ao diagnóstico – este afeta também todo o seu contexto familiar, principalmente se este tipo de doença causar limitações a algum nível (emocional, físico ou social). Todos os elementos da família mais próxima estão sujeitos a sofrer stress e ansiedade. A partir do momento em que o diagnóstico surge, surgem também várias ameaças e desafios: Para o indivíduo: a necessidade de preservar a sua autoimagem; a necessidade de manter algum grau de controlo e domínio sobre si e sobre a sua doença; a preparação para as incertezas que podem surgir relativamente ao prognóstico; e a necessidade de manter relações significativas com familiares e amigos. Para a sua família: a necessidade de reorganização dos papéis familiares a criação de uma nova identidade familiar; a dificuldade em manter uma comunicação satisfatória acerca da doença (muitas vezes, os elementos da família sentem que não podem exprimir livremente o que sentem e o que pensam, sob prejuízo de magoar o elemento da família que se encontra doente). A família e amigos próximos do indivíduo com doença, têm um papel fundamental na adaptação deste à sua nova realidade – estes podem ser uma fonte de suporte, ou uma fonte de stress adicional. No período imediatamente após o diagnóstico, é comum que a família e amigos chegados da pessoa com doença crónica possam reagir de forma pouco favorável – negar a doença, recusar-se a falar sobre ela, ou protegendo excessivamente a pessoa com doença. Este tipo de ações podem levar a uma adaptação desadequada à própria doença. Para a pessoa com doença crónica, a interação social pode ser uma fonte de grande stress, numa fase inicial – provocando-lhe desconforto. Mesmo que a rede social da pessoa com doença crónica esteja a lidar bem com a situação, o próprio indivíduo poderá ter dificuldades na interação, e é natural que a evite. Esta é uma adaptação complexa, avassaladora e assustadora, e todos os esforços de adaptação à nova realidade devem ser valorizados. Este processo de adaptação não é linear, nem igual em todas as pessoas – cada um de nós é um ser único, com recursos diferentes. Um psicólogo poderá ajudá-lo, (a si, e aos que lhe são próximos) a explorar estes recursos, na aceitação desta nova realidade (com todas as mudanças que ela acarreta) e na criação de um novo significado e propósito. Lembre-se que é mais do que a sua doença. Sara Madeira Fontes: Psicologia da Saúde. Contextos e Áreas de Intervenção – José A. Carvalho Teixeira (2007) Introdução clínica à psicologia da saúde – Paul Bennett (2002) Trindade, I., & Teixeira, J. A. C. (2000). Aconselhamento psicológico em contextos de saúde e doença–Intervenção privilegiada em psicologia da saúde. Análise Psicológica, 18(1), 3-14. Ribeiro, C. (2007). Família, saúde e doença. O que diz a investigação?. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 23(3), 299-306. http://www.insa.min-saude.pt/infografico-insa-─-doenca-cronica/ Travel photo created by freepik - www.freepik.com