“Eu não sou a minha doença.”
O adoecer é sempre acompanhado de medo e ansiedade – e estes são potenciados quando o diagnóstico se trata de uma doença crónica.
A OMS define as doenças crónicas como “Doenças que têm uma ou mais das seguintes características: são permanentes, produzem incapacidade/deficiências residuais, são causadas por alterações patológicas irreversíveis, exigem uma formação especial do doente para a reabilitação, ou podem exigir longos períodos de supervisão, observação ou cuidados.”
Num estudo efetuado em 2015, pelo INSA, verificou-se que mais de metade dos portugueses com idades compreendidas entre os 25 e 75 anos de idade (57,8%) referiram ter, pelo menos, uma doença crónica (ocorrência de uma ou mais doenças crónicas auto reportadas, de uma lista de vinte patologias: hipertensão arterial; enfarte agudo do miocárdio; acidente vascular cerebral; disritmia cardíaca; diabetes; insuficiência renal crónica; cirrose; hepatite crónica; asma; doença pulmonar obstrutiva crónica; dor crónica; osteoporose; artrite reumatoide; artrose; cancro; depressão; ansiedade crónica; úlcera gástrica ou duodenal; colesterol elevado e alergia).
A doença crónica acarreta uma necessidade de adaptação psicológica significativa – tanto para o indivíduo que a possui, como para as pessoas que lhe são próximas. Não é apenas a pessoa com doença crónica que sofre com a adaptação ao diagnóstico – este afeta também todo o seu contexto familiar, principalmente se este tipo de doença causar limitações a algum nível (emocional, físico ou social). Todos os elementos da família mais próxima estão sujeitos a sofrer stress e ansiedade.
A partir do momento em que o diagnóstico surge, surgem também várias ameaças e desafios:
- Para o indivíduo:
- a necessidade de preservar a sua autoimagem;
- a necessidade de manter algum grau de controlo e domínio sobre si e sobre a sua doença;
- a preparação para as incertezas que podem surgir relativamente ao prognóstico;
- e a necessidade de manter relações significativas com familiares e amigos.
- Para a sua família:
- a necessidade de reorganização dos papéis familiares
- a criação de uma nova identidade familiar;
- a dificuldade em manter uma comunicação satisfatória acerca da doença (muitas vezes, os elementos da família sentem que não podem exprimir livremente o que sentem e o que pensam, sob prejuízo de magoar o elemento da família que se encontra doente).
A família e amigos próximos do indivíduo com doença, têm um papel fundamental na adaptação deste à sua nova realidade – estes podem ser uma fonte de suporte, ou uma fonte de stress adicional. No período imediatamente após o diagnóstico, é comum que a família e amigos chegados da pessoa com doença crónica possam reagir de forma pouco favorável – negar a doença, recusar-se a falar sobre ela, ou protegendo excessivamente a pessoa com doença. Este tipo de ações podem levar a uma adaptação desadequada à própria doença.
Para a pessoa com doença crónica, a interação social pode ser uma fonte de grande stress, numa fase inicial – provocando-lhe desconforto. Mesmo que a rede social da pessoa com doença crónica esteja a lidar bem com a situação, o próprio indivíduo poderá ter dificuldades na interação, e é natural que a evite.
Esta é uma adaptação complexa, avassaladora e assustadora, e todos os esforços de adaptação à nova realidade devem ser valorizados. Este processo de adaptação não é linear, nem igual em todas as pessoas – cada um de nós é um ser único, com recursos diferentes.
Um psicólogo poderá ajudá-lo, (a si, e aos que lhe são próximos) a explorar estes recursos, na aceitação desta nova realidade (com todas as mudanças que ela acarreta) e na criação de um novo significado e propósito.
Lembre-se que é mais do que a sua doença.
Sara Madeira
Fontes:
Psicologia da Saúde. Contextos e Áreas de Intervenção – José A. Carvalho Teixeira (2007)
Introdução clínica à psicologia da saúde – Paul Bennett (2002)
Trindade, I., & Teixeira, J. A. C. (2000). Aconselhamento psicológico em contextos de saúde e doença–Intervenção privilegiada em psicologia da saúde. Análise Psicológica, 18(1), 3-14.
Ribeiro, C. (2007). Família, saúde e doença. O que diz a investigação?. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 23(3), 299-306.
http://www.insa.min-saude.pt/infografico-insa-─-doenca-cronica/
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